A época de apresentação de resultados está agora no seu auge. Ao contrário do que sucedeu em crises anteriores, em que existe uma alteração nas empresas líder, desta vez as empresas de grande dimensão mostraram a sua agilidade, adaptaram-se.

Desde a Microsoft, Apple, Tesla e Facebook à Alphabet ou Shopify, todas beneficiaram da conjuntura de adaptação a uma nova realidade e apresentam resultados que ultrapassam as estimativas.

A utilização das novas tecnologias, da cloud ao armazenamento de dados, passando pelos pagamentos online, pela digitalização de processos e pela massificação das compras online, permitiu a algumas empresas valerem mais de dois triliões de dólares americanos, ou dez vezes o PIB português.

Por outro lado as recentes valorizações dos mercados, algumas das quais superaram os 12% desde o início do ano, reflectem já o optimismo na recuperação da economia e, consequentemente, nos resultados.

Como é natural, porém, estão a formar-se algumas nuvens.

O aumento da procura de chips electrónicos, associado a um incidente numa fábrica japonesa, está a gerar um constrangimento na oferta, com implicações graves na produção de algumas empresas, nomeadamente a automóvel e electrónica. Esta incerteza traduzir-se-á num aumento dos preços para os consumidores, ou seja, inflação.

Também as matérias-primas estão debaixo de forte pressão. O milho, o trigo e a soja registaram fortes apreciações no último mês, que atingiram os 20%, e também elas irão afectar o nosso dia-a-dia.

O preço dos bens essenciais irá subir, num momento em que existem restrições de oferta, com consequências ao nível da desigualdade, já por si em níveis insustentáveis.

Com efeito, as empresas terão grande dificuldade em suportar um aumento dos custos, uma vez que grande parte do tecido empresarial vai iniciar a retoma da actividade. Os trabalhadores, por seu turno, serão confrontados com uma perda do poder de compra, pressionando por melhores condições.

O Bando Central Europeu e mais recentemente a Reserva Federal dos Estados Unidos têm tratado as expectativas de inflação como temporárias, no que é uma retórica essencial para justificarem os juros e o financiamento aos Estados a custo zero, sem ter em conta as consequências desastrosas que a inflação irá trazer.

À medida que a onda de inflação atinge a economia, a perda de poder de compra e a desvalorização do dinheiro terão como consequência um aumento das tensões sociais, que continuam ao virar da esquina. Será sem dúvida mais um teste à resiliência do projecto europeu.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.