Poucos dias após a assinatura do programa de estímulos de 1,9 triliões de dólares, as famílias americanas começaram a receber os apoios no valor de 1.400 dólares, desta vez por transferência bancária. Esta é uma ajuda preciosa que chega à economia por via da base e não do apoio ao endividamento de empresas ou por via de moratórias.

Passada esta fase, os Estados Unidos iniciam agora a discussão acerca de outro pilar da recuperação económica – o programa de infra-estruturas, superior a um trilião de dólares. Este programa envolverá o investimento em infra-estruturas chave e a preparação dos Estados Unidos para a concorrência que virá da China, como ficámos a saber pelo plano quinquenal aprovado no início do mês. A concorrência entre estes dois blocos económicos até 2025 deixará marcas no mundo. Com efeito a economia que conseguir investir no 5G, na biotecnologia, nas infra-estruturas tecnológicas, na interconectividade e no tratamento de dados, será a economia que irá dominar nos próximos 20 anos.

A Europa, como sempre, não fará parte deste processo.

É visível a descoordenação a todos os níveis – desde o processo de vacinação à chegada das ajudas às famílias ou empresas europeias, ou ainda à aplicação do dinheiro alocado ao Plano de Recuperação.

Cada vez mais o lema parece ser ‘cada Estado por si’. Por alguma razão, o Estado alemão tinha negociado com algumas farmacêuticas a entrega de vacinas. A falta de preparação, de experiência e de convicção dos políticos europeus, transmite-se à população europeia que duvida da sua eficácia, e agora do processo de vacinação, tão necessário à recuperação económica.

Os Estados Unidos, a vacinarem até quatro milhões de americanos por dia, irão imunizar toda a sua população até Junho, podendo prescindir do “Passaporte de Saúde”, outra burocracia europeia, visto estarem todos vacinados – ao contrário dos europeus. Foi rápida a decisão relativa ao passaporte de vacinação, e lenta a aprovação e implementação do Plano de Recuperação Europeu. A promessa falhada de desburocratização e simplificação de processos ao nível da União Europeia vem dar razão ao Reino Unido e aos que continuam a pretender uma alternativa ao confinamento político em que Bruxelas vive e tenta submeter a restante população.

No mercado financeiro, os investidores começam a mostrar que não irão aceitar taxas de juro no longo prazo tão baixas, preparando-se já um ciclo de subidas das taxas de juro, com consequências para todos os agentes económicos. As taxas de juro americanas a 10 anos já superaram os 1,75%, o que faz soar os alarmes quanto aos custos de financiamento dos governos a médio prazo.

Apesar da Reserva Federal americana e do Banco Central Europeu terem ancorado as expectativas de taxas perto de zero nos próximos anos, os programas de estímulos  e de infra-estruturas superiores a três triliões de dólares terão um efeito inflacionista forte não apenas do lado americano, mas também europeu, pelo que devemos preparar-nos para dias difíceis, principalmente numa sociedade presa por dívida.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.